Lembro-me de todos aqueles sábados que passava com a minha avó. Eram sempre acompanhados por um grande jarro de limonada e uma ida ao cabeleireiro. Lembro-me de me sentir adulta ao acompanhá-la, gostava de tudo. Tudo exceto cumprimentar todas aquelas idosas que se encontravam com vários rolinhos coloridos no cabelo, os óculos fundo de garrafa e um grande sorriso como se eu fosse a última criança com o último par de bochechas do mundo. Nunca gostei de cumprimentar estranhos, culpa dos meus pais que sempre me disseram “Não fales com estranhos” mas que acabavam sempre por me fazer cumprimentar todos os seus amigos. Todos os sábados a mesma rotina: limonada, cumprimentar a meia dúzia de idosas sentadas em grandes poltronas, ouvi-las queixarem-se do joanete inchado ou das dores nas artroses e ver as mil e uma fotos da baliza entre os dentes dos netos. Sempre achei estas tardes as mais aborrecidas que podia passar, e o que me acabava por motivar a ir era a possibilidade de jogar o jogo da cobra no Nokia da minha avó, isto se ela não tivesse gasto a bateria toda a ligar para o “Você na TV”. Os anos passaram e durante anos não pisei aquele chão cheio de cabelos do cabeleireiro. Vim a saber que este fechou e que a Dona Antónia teve de arranjar um novo local para pintar as unhas e os cabelos cor de sabedoria.

Decidi então voltar a ir com ela num destes sábados.

Entrei no cabeleireiro e não havia mais velhinhas sentadas em grandes poltronas. Ao invés havia pessoas adultas nos seus telemóveis. Entrei e disse “Boa tarde”, como sempre fizera, mas ninguém respondeu. Ao que parece as conversas sobre o cão da vizinha do segundo andar tinham sido substituídas por fones, as fotos por “feeds” nas redes sociais e a boa educação por uma cara carrancuda. Apercebi-me do quanto os anos passaram, do quão boa era a sensação de alguém a apertar-te as bochechas e de todas aquelas conversas sobre a vida dos outros. A impessoalidade ouve-se no ar, e a saudade, no coração. Ai!, que saudades da Dona Cremilde. Que saudades sinto dos meus aborrecidos sábados!  

Rita Bernardino – 9.º Ano

   

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